As Papoulas Vermelhas no Monte Cassino

Música: Alfred Schütz
Letra: Feliks Konarski

execução: Ola Turkiewicz com o conjunto Concerto da IndependênciaAs Papoulas Vermelhas no Monte Cassino

Informações sobre a obra musical

Título: As Papoulas Vermelhas no Monte Cassino
Música: Alfred Schütz
Letra: Feliks Konarski

Czerwone maki na Monte Cassino (As Papoulas Vermelhas no Monte Cassino) – canção militar polonesa que se refere à participação do 2º Corpo Polonês, sob o comando do General Władysław Anders [1], na famosa batalha de Monte Cassino (maio de 1944). A letra do primeiro verso e coro foi composta na madrugada de 17 para 18 de maio por Feliks Konarski[2] (cantor, compositor e poeta), do Teatro do Soldado Polonês. A música é obra do compositor e maestro Alfred Schütz [3]. A primeira apresentação ocorreu em 18 de maio, após a tomada das ruínas do mosteiro. Gwidon Borucki interpretou a canção, com o acompanhamento da Orquestra de Schütz. Konarski mais tarde mencionou aqueles momentos: “Cantando As Papoulas Vermelhas pela primeira vez no pé da montanha do mosteiro, todos chorávamos. Os soldados choravam conosco. As papoulas vermelhas que floresceram naquela noite se tornaram outro símbolo de heroísmo e sacrifício – e uma homenagem dos que sobreviveram àqueles que, por amor à liberdade, tombaram em favor da liberdade humana”. O segundo verso Konarski acrescentou algumas horas depois e o terceiro em 1969, no 25º aniversário da batalha.

Observação histórica

Soldados da 3ª Divisão de Caçadores dos Cárpatos ouvem "As Papoulas Vermelhas". Interpretação da orquestra de Alfred Schütz. Provavelmente foi apresentada pela primeira vez em 18 de maio de 1944. Fotografia de Mieczysław Młotek "Terceira Divisão de Caçadores dos Cárpatos 1942-1947", Londres, 1978.
Soldados da 3ª Divisão de Caçadores dos Cárpatos ouvem “As Papoulas Vermelhas”. Interpretação da orquestra de Alfred Schütz. Provavelmente foi apresentada pela primeira vez em 18 de maio de 1944. Fotografia de Mieczysław Młotek “Terceira Divisão de Caçadores dos Cárpatos 1942-1947”, Londres, 1978.

A colina de Monte Cassino (Itália, os Apeninos Centrais, o vale do rio Liri entre Roma e Nápoles) já era famosa na Europa medieval graças ao Mosteiro Beneditino, fundado nos anos entre 525 e 529 por São Bento de Núrsia. Devido à localização estratégica da colina na estrada do sul a Roma, entre janeiro e maio de 1944 quatro batalhas foram travadas ali, que juntas são reconhecidas como uma das lutas mais ferozes da Segunda Guerra Mundial. O historiador britânico Matthew Parker escreveu: “A Batalha de Cassino, a maior batalha terrestre da Europa, foi a mais pesada e a mais sangrenta dos aliados ocidentais com o Wehrmacht alemão em todas as frentes da Segunda Guerra Mundial”. Os três primeiros ataques terminaram com derrotas sangrentas dos aliados.

Na última batalha, travada entre 11 e 19 de maio, o 2º Corpo de Polonês, comandado pelo general Władysław Anders, desempenhou um papel decisivo.

Major General Władysław Anders – comandante do 2º Corpo Polonês na Batalha de Monte Cassino. Foto do acervo do Arquivo Militar Central. Fonte: Wikipédia
Major General Władysław Anders – comandante do 2º Corpo Polonês na Batalha de Monte Cassino. Foto do acervo do Arquivo Militar Central. Fonte: Wikipédia

Ao assumir o desafio de participar do confronto, considerou que a vitória seria um grande sucesso para a causa polonesa, abafando a propaganda soviética, que propagava que “os poloneses evitavam dar combate aos alemães”. A operação recebeu codinome “Honker”. Os soldados poloneses explicaram este nome como “o grito dos gansos retornando ao país”. Em 11 de maio, antes do primeiro ataque, a ordem do comandante foi lida para os soldados. O general mencionou que o ataque polonês seria a retaliação pelo “…ataque bandido dos alemães à Polônia, pela partição da Polônia juntamente com os bolcheviques, pelas milhares de cidades e aldeias em ruínas, pelos assassinatos e torturas de centenas de milhares de irmãs e irmãos, pelos milhões de poloneses deportados como escravos para a Alemanha, pela miséria e infortúnio do país, pelo nosso sofrimento e desespero – com fé na justiça da Providência Divina, avançaremos com o brado santo em nossos corações: Deus, Honra e Pátria”. A batalha teve início em 12 de maio, à 1 hora da madrugada. Apesar de sucessos iniciais no ataque polonês, ocorreu como nos ataques anteriores e terminou num sangrento insucesso. Por volta das 14 horas, o general Anders emitiu às tropas a ordem de retorno para as posições iniciais. O intervalo foi aproveitado para reorganizar e complementar as perdas humanas e das reservas de materiais. Deve-se enfatizar aqui que os alemães defensores da 1ª Divisão Blindada e de Paraquedismo sofreram pesadíssimas baixas naquele dia. Por sua vez, o comando alemão, confuso com o ataque polonês quanto à direção principal a agressão aliada, negligenciou a cobertura de outras seções, dando oportunidades para as tropas francesas que atacaram pelos Montes Aurunci e rio Garigliano. Nos dias seguintes, o bombardeio das posições alemãs continuou.

Soldados poloneses na luta pela Colina 593. Fotografia Melchior Wańkowicz "A Batalha de Monte Cassino". Fonte: Wikipédia.
Soldados poloneses na luta pela Colina 593. Fotografia Melchior Wańkowicz “A Batalha de Monte Cassino”. Fonte: Wikipédia.

O segundo ataque polonês começou em 16 de maio e resultou na tão desejada virada. Nossas tropas tomaram e mantiveram as posições “Widmo”, “593”, “Monte Castellone”, “Massa Albaneta” e “Colle San Angelo”[4]. Isto significava na prática a quebra do flanco norte da linha defensiva alemã. Devido à travessia britânica dos rios Rapido e Liria, a sequência da defesa de Monte Cassino se tornou impossível. As tropas alemãs, extremamente cansadas e castigadas, deixaram suas posições. Em 18 de maio, a patrulha do 12º Regimento de Ulanos, sob o comando do tenente Kazimierz Gurbiel, entrou nas ruínas do mosteiro de Monte Cassino[5]. Nossos soldados prenderam nas paredes o pendão de seu regimento e, mais tarde, a bandeira polonesa, enfatizando simbolicamente a participação polonesa nesta batalha. Até 19 de maio, as tropas do 2º Corpo ainda estavam passando por atividades de limpeza. Em 20 de maio, o comandante do 15º Grupo do Exércitos, general Harold Alexander, deu ao 2º Corpo a ordem de agradecimento pela vitória: “Soldados do 2º Corpo Polonês! Se me fosse dado escolher os soldados para ter sob o meu comando, eu escolheria vocês, poloneses!

Na Batalha de Monte Cassino, o 2º Corpo Polonês sofreu pesadas baixas: 923 foram mortos, 94 foram dados como desaparecidos e 2.931 soldados ficaram feridos.

Análise do texto da canção

A primeira estrofe começa com uma referência à colina do mosteiro (contra a qual ocorreu a primeira atuação), que deu o nome a esta batalha e se tornou o seu símbolo. O texto é também um lembrete do dever do soldado de vingar os sofrimentos infringidos aos poloneses por meio da força armada, da coragem do soldado, da determinação e da honra do exército polonês. O refrão sobre “as papoulas vermelhas que crescem do sangue polonês” é uma referência ao motivo popular das memórias dos veteranos da Batalha do Somme (Primeira Guerra Mundial), que descreveram os campos de papoulas vermelhas dos Flandres associados ao sangue de soldados tombados. As “papoulas vermelhas” também são a memória das flores que desabrochavam nas colinas invadidas pelos poloneses durante a batalha. Para o autor do texto, tornaram-se um símbolo eterno do heroísmo dos soldados poloneses. O segundo verso nos lembra das pesadas perdas durante a batalha (“Muitos deles foram atingidos e tombaram”). Ele compara os ataques da infantaria polonesa ao ataque dos cavaleiros poloneses do 1º Regimento da Guarda Imperial no desfiladeiro de Somosierra (30 de novembro de 1808) e ao ataque do 2º Esquadrão da 2ª Brigada das Legiões Polonesas perto de Rokitna (13 de junho de 1915). Durante o comunismo, o motivo do ataque Rokitnia foi substituído pelo ataque dos gadanheiros camponeses na Batalha de Racławice, em 4 de abril de 1794 (Revolta de Kościuszko). A última parte da segunda estrofe é uma imagem simbólica de toda a batalha: os poloneses, ao contrário dos ataques anteriores, não atacaram diretamente a colina do mosteiro. A terceira estrofe começa com uma imagem do Cemitério de Guerra Polonês em Monte Cassino (“uma fila de cruzes brancas”). O autor lembra-nos do grande preço que os soldados poloneses pagaram pela vitória nesta batalha e por esta terra, que para a eternidade se tornou o seu próprio pedaço da distante Polônia, para onde partiram da “terra desumana”[6]. A canção termina com um lembrete de que a liberdade deve ser paga… com o sacrifício do sangue e da vida.

Mesmo durante a guerra, “As Papoulas Vermelhas” popularizou-se pela diáspora polonesa e chegou à Polônia ocupada. Três meses depois da batalha, um semanário polonês em Nova York escreveu: “A canção […] que todo o 2º Corpo de Exército está cantando agora, é a que todos nós cantaremos. É uma canção que nasce na batalha, uma canção que diz simplesmente o que todos sentem, destinada ao canto coral, uma canção que é para nós hoje – o que “Rozmaryn” foi no passado”. Durante o período stalinista, por razões políticas, foi oficialmente uma canção proibida, mas extraoficialmente muito popular. Com o tempo, “As Papoulas Vermelhas” foi tratada quase como um segundo hino nacional. Nos tempos da República Popular da Polônia, o costume de ouvir esta canção em pé tornou-se comum.

 

Elaborado por: Piotr Pacak

 

Comentários:

[1] Władysław Anders (1892-1970) – militar e político polonês, comandante do 2º Corpo Polonês na Batalha de Monte Cassino.

[2] Feliks Konarski (1907-1991) – Poeta, cantor, escritor, ator, jogador de futebol polonês.

[3] Alfred Schütz (1910 – 1999) – compositor e pianista polonês.

[4] Durante o contra-ataque alemão a San Angelo, quando os soldados poloneses começaram ter suas posições quebradas, o sargento Marian Czapliński convocou os seus colegas, entoando “A Polónia ainda não pereceu” (Mlechior Wańkowicz menciona isto em “Monte Cassino”).

[5] O mosteiro foi destruído em 16 de fevereiro de 1944 por um ataque aéreo de 265 bombardeiros aliados. A decisão de bombardear foi tomada pelo general neozelandês Bernard Freyberg, com o consentimento do general Harold Alexander. Este ataque teve forte repercussão em todo o mundo e foi amplamente criticado, inclusive pelos comandantes aliados. Também não trouxe nenhum benefício militar: os alemães tinham condições melhores de defesa nas ruínas do que em todo o edifício.

[6] As áreas da URSS foram chamadas de “terra desumana”, para as quais os poloneses das voivodias orientais da República da Polônia foram deportados à força de 1939 a 1941.

 

 

A publicação expressa apenas a opinião do(s) autor(es) e não pode ser identificada com a posição oficial da Chancelaria do Primeiro-Ministro.

 

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